Por onde andam os Oceanógrafos?

Todo mundo tava esperando ansiosamente por mais um post, certo? Então bora matar a curiosidade sobre como andam as coisas na terra da Beth com o Augusto que está na Irlanda. Simbora negada!

 

PET – Qual seu nome?

Augusto – Augusto Freitas

PET – Em que semestre você estava antes de viajar?

Augusto – 5° semestre

PET – Você acha que os conhecimentos adquiridos foram úteis ao intercambio?

Augusto – Sem dúvida! Muito do que eu vi em algumas disciplinas na UFC e nas atividades do laboratório, vi também em algumas disciplinas que eu cursei aqui e isso de certa forma me deu uma vantagem além de ajudar a fixar o conhecimento que tinha adquirido aí.

PET – Você participava de algum projeto/bolsa/laboratório no Labomar?

Augusto – Fui bolsista de IC (Iniciação Científica) no Laboratório de Oceanografia Abiótica por cerca de 7 meses.

PET – Em que universidade/país você está? Porque escolheu essa universidade?

Augusto – Estou na University of Ulster, que fica na Irlanda do Norte (Reino Unido). Meu critério para escolher a universidade durante o processo de seleção se baseou mais na grade do curso do que no local da universidade em si. A University of Ulster foi a minha primeira escolha dentre as três universidades que podíamos selecionar e aqui estou cursando Ciências Marinhas. Eu fui alocado no 2° ano do curso, mas pude fazer algumas disciplinas do 3° e último ano.

PET – Foi difícil se acostumar a ter aulas em inglês (visto que os cursos de línguas do Brasil são mais voltados pra conversação do dia a dia)?

Augusto – Na primeira semana a adaptação foi um pouco complicada. O inglês da Irlanda do Norte é muito diferente de qualquer outro sotaque do inglês que eu já tinha ouvido e é bem mais difícil de entender também, mas depois dos primeiros mêses, deixou de ser um problema tão grande. Por outro lado, o que ajudou é que não tem outros brasileiros na universidade, com exceção de outra bolsista do Ciência sem Fronteiras. Por conta disso, acabamos tendo que falar inglês o tempo todo.

PET – Quais as cadeiras mais legais/diferentes que você está cursando?

Augusto – Das disciplinas que eu cursei aqui, não tive nenhuma muito diferente das que eu já cursei na UFC, mas acho que as que valeram mais a pena foram Natural Hazards (Desastres Naturais), GIS (SIG) e Marine Biology (Biologia Marinha). As duas últimas tiveram um foco muito grande na parte prática e acho que por isso valeram bastante a pena.

PET – Teve chance de embarcar?

Augusto – Sim! Porém não pela universidade. Tive a chance de fazer um curso indicado pelo coordenador do meu curso aqui e viajei para Cork, no sul da Irlanda. Passei dois dias embarcado em um cruzeiro oceanográfico equipado com vários laboratórios e todo tipo de instrumentação oceanográfica (tive a chance de aprender a usar vários desses equipamentos a bordo).

PET – Vai fazer estágio ou pesquisa supervisionada?

Augusto – Comecei meu estágio nessa semana, estou em uma empresa de consultoria ambiental do governo e no projeto em que estamos trabalhando, tentamos analisar as áreas mais vulnerábeis a impactos ambientais na foz do rio Lagan, em Belfast, caso ocorram vazamentos de petróleo. Eu terei bestante trabalho com GIS assim como alguns embarques.

PET – Você sofreu algum tipo de choque cultural?

Augusto – Tive alguns problemas para me adaptar nas primeiras semanas aqui. Não sabia cozinhar, nunca tinha feito mercantil e dificilmente fazia faxina em casa, mas aprendi logo. As pessoas aqui são extremamente amigáveis, a sensação de segurança é muito grande (por exemplo, posso caminhar numa rua deserta aqui à noite ouvindo música no celular, ou usar meu notebook num parque ou deixar minha câmera no banco do trem e ir ao banheiro, e nada acontece) e a qualidade de vida é muito alta (porque eles são muito despreocupados, nunca vi um irlandês reclamando de estresse). Creio que o choque cultural irá acontecer de fato quando eu retornar. Mas, dentre as coisas meio estranhas daqui tem a batata que é meio que o “arroz com feijão” dos irlandeses e o prato principal deles (acho que um dos poucos que são daqui mesmo e não de outra cultura) é o fish & chips (peixe, batata frita, ervilhas e molho). Mas eles comem chips com bife, lasanha, pizza, frango e com o que mais der pra misturar lol. Sem falar que algumas meninas daqui quando saem de noite pras festas, usam uma maquiagem laranja pra ‘parecerem’ bronzeadas e acabam parecendo Oompa Loompas! É muito estranho.

PET – Como está sendo a sua rotina?

Augusto – Tranquila, eu diria. A cidade onde eu moro é muito pequena, tudo fica perto e ainda tenho a vantagem de morar dentro do campus, o lado ruim é que aqui tudo fecha cedo. Quando dá 17h30 – 18h, as lojas fecham e a cidade fica deserta. Mesmo agora anoitecendo depois das 22h (ainda to me acostumando com isso lol). Meu ano acadêmico já terminou, mas antes disso, eu fazia três módulos por semestre e tinha poucas aulas durante a semana (aqui a carga horária de aula é muito menor que na UFC), mas por outro lado o número de trabalhos é bem maior e eles esperam que você estude muito por conta própria.

PET – A bolsa está sendo suficiente? Você teve a chance de viajar para outros países/cidades?

Augusto – Apesar do custo de vida no Reino Unido ser alto (e da comida normal ser absurdamente cara, se comparado ao Brasil), a bolsa que recebo dá pra suprir minhas necessidades sim. Como já falei, moro dentro do campus, então não tenho gastos com transporte e pelo fato da cidade onde moro ser pequena, o custo de vida é bem baixo se comparado a outras cidades do UK. E economizando a bolsa e os auxílios já deu pra viajar pra alguns países sim.

PET – Quais as principais diferenças entre os sistemas educacionais?

Augusto – Não sei se dá pra comparar e dizer qual o melhor sistema educacional, ambos têm seus pontos fortes e fracos. Mas eu diria que na UFC a base teórica que a gente recebe na graduação é, de longe, mais completa. O numero de disciplinas é maior e o tempo de duração do curso também. No entanto, a estrutura física que os alunos daqui têm a disposição (salas de aula, biblioteca, laboratórios, equipamentos para aulas de campo, etc.) é muito melhor.

PET – Você acha que as disciplinas que está fazendo ai vão ser úteis no rumo que você quer tomar dentro da oceanografia?

Augusto – Acho que as disciplinas que eu fiz aqui foram importantes e provavelmente serão úteis algum dia, mas talvez não exatamente dentro da oceanografia. Muitas das disciplinas que eu cursei eram do curso de ciências ambientais, e o conteúdo de algumas me pareceu um pouco abstrato (pelo menos se comparados com as cadeiras da nossa grade aí). Por exemplo, uma dessas disciplinas foi ‘desenvolvimento, meio ambiente e sociedade’ e quase todas as aulas eram focadas no uso de recursos naturais no Oriente Médio. Outra disciplina foi ‘planejamento ambiental’, mas os exemplos que o professor usava eram muito locais e baseados na legislação ambiental do Reino Unido. Mas no geral, tenho certeza que todas as disciplinas que eu fiz aqui serão úteis sim, mesmo enquanto eu ainda estiver no curso ou depois que eu me formar.

PET – Tem algum ponto negativo no intercâmbio?

Augusto – Acho que eu esperava mais opções de disciplinas, mas com 3 disciplinas por semestre (muitas parecidas às que eu já havia feito) e 3 anos de curso aqui, não tive muitas opções não. Mas com certeza não me decepcionei!

PET – Muito obrigada pela sua entrevista :D

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