Por onde andam os Oceanógrafos? ~Respostas do Ítalo

Bom galera, a última entrevista publicada foi a do Ítalo que está no Canadá. Devido ao feedback de vocês, perguntinhas extras foram feitas ao nosso caro entrevistado (não, nós não temos pena de encher a paciência dos nossos queridos entrevistados, então se quiser saber mais sobre qualquer coisa de qualquer um deles, é só deixar um comentário) e hoje é a hora da resposta!

A pergunta foi: “Você pode falar mais sobre esse Laboratório de Ecologia de Bentos de Oceanos Gelados e sobre a cadeira de Design de Veículos Automáticos dentro d’água?”

Ítalo - O laboratório se chama Cold Ocean Benthic Ecology Lab, o que daria numa tradução mais fiel “Laboratório de Ecologia Bêntica de Oceanos Frios”. Sob a supervisão do Dr. Patrick Gagnon, o laboratório possui duas salas principais: a sala úmida onde ficam os tanques e aquários que são usados para manter as espécies coletadas e a sala seca onde ficam os escritórios dos pesquisadores e a área de trabalho geral. Lá eu trabalho ajudando em dois projetos um envolvendo crescimento e macrofauna associada aos rodolitos e o outro que é voltado para o comportamento das estrelas-do-mar. No projeto dos rodolitos eu ajudo com as coletas, triagem e identificação de algumas espécies que fazem parte da macrofauna associada aos rodolitos. Já no projeto das estrelas-do-mar eu trabalho observando o comportamento delas num tanque de simulação de ondas, faço também análises de imagens produzidas na área de coleta e ajudo na coleta e manutenção das espécies que ficam nos tanques.

A cadeira de Operação e Design de Veículos Automáticos dentro d’água é mostrando os mais diversos veículos automáticos criados para coleta e/ou transmissão de dados oceanográficos. O que se vê basicamente é como são feitos e explicando o design de cada veiculo e como se opera, basicamente, cada um deles.

 

E é isso ai galera, não percam a próxima entrevista, que depois da pesquisa de opinião sobre se os post deveriam continuar quinzenais ou virar semanais, passaram a ser publicados todas as segundas-feiras a partir do dia 17/06 (espero que todos entendam que isso encurtará nossa série de entrevistas).

Por onde andam os Oceanógrafos?

Na entrevista de hoje, vamos saber um pouco mais sobre o que há pra se fazer no Canadá quando o assunto é Oceanografia com o aluno Ítalo. Todos prontos? Então vamos lá!

 

PET – Qual seu nome?

Ítalo – Italo Cesar Camelo Soares Lima

PET – Em que semestre você estava antes de viajar?

Ítalo – 6° semestre

PET – Você acha que os conhecimentos adquiridos foram úteis ao intercambio?

Ítalo – Sim, algumas disciplinas que eu já havia cursado e a experiência que eu já tinha em laboratório facilitaram na hora de procurar estágio e no entendimento das aulas aqui.

PET – Você participava de algum projeto/bolsa/laboratório no Labomar?

Ítalo – Eu era bolsista do PET e voluntário no laboratório de Zoobentos.

PET – Em que universidade/país você está? Porque escolheu essa universidade?

Ítalo – Memorial University of Newfoundland no Canadá. Escolhi porque ela é bem desenvolvida na parte de Oceanografia Física e tem boas disciplinas na parte biológica.

PET – Você foi pro intercambio com o curso de inglês, foi de 3 ou 6 meses? Acha que isso foi algum tipo de vantagem pra você?

Ítalo – O meu curso foi de 3 meses. Foi vantagem sim, porque realmente me deu tempo para me acostumar com o uso do inglês diariamente e outra vantagem foi que nesse tempo eu me acostumei com o lugar, com as pessoas e com o sotaque. Seria complicado se eu já chegasse tendo aula normal e tendo que me acostumar com tudo de uma vez. Além disso, o curso de inglês foi bastante proveitoso.

PET – Quais as cadeiras mais legais/diferentes que você está cursando?

Ítalo – Operação de ROV, Sensoriamento Remoto Avançado e Operação e Desing de Veículos Automáticos dentro d’água.

PET – Teve chance de embarcar?

Ítalo – Sim, durante o estágio. Foram embarques para projetos envolvendo mergulho. Até agora eu já fiz 2 embarques de mais ou menos 6 horas cada, mas ainda vão ter outros mais na frente. Eu não cheguei a mergulhar nesse embarques por não possuir experiência com mergulho e por causa da temperatura da água que é muito fria. O pessoal que mergulhou é experiente com mergulho em águas desse tipo. A temperatura da água estava entre 1 e 2°C. O que eu fiz foi ajudar o pessoal com os equipamentos, recolher as amostras coletadas para dentro do barco e marcar os tempos de cada mergulho.

PET – Vai fazer estágio ou pesquisa supervisionada?

Ítalo – Sim, 12 semanas de estágio no Laboratório de Ecologia de Bentos de Oceanos Gelados.

PET – Você sofreu algum tipo de choque cultural?

Ítalo – Sim, comida diferente, comportamentos diferentes e várias culturas diferentes num mesmo lugar, porque aqui existem muitas outras pessoas de outros países estudando. Não é somente com a cultura canadense que eu estou tendo contato. Moro com um mexicano, um filipino e um canadense. Conheço vários chineses, colombianos e alguns árabes e indianos. São várias culturas e belas histórias num lugar só. Uma das coisas mais chocantes daqui é que o pessoal é muito educado. Eles param o carro quando você vai atravessar a rua, muitos deles seguram a porta para você entrar. O pessoal se prontifica em te ajudar quando você pede informação. Já me deram carona quando eu perguntei onde ficava uma rua e quando eu tava me mudando do hotel que eu estava para minha casa agora a dona da casa me deu carona e trouxe todas as minhas coisas e ainda mostrou os principais pontos da cidade. De estranho eles tem os hábitos alimentares. Eles comem fast food no almoço como se fosse a coisa mais saudável do mundo e eles não sabe o que é usar um guardanapo. Aqui também tem gente que não sabe o que é desodorante ou o escovar os dentes de manhã.

PET – Como está sendo a sua rotina?

Ítalo – Aulas/estágio de 9:00 as 16:45 durante a semana. Finais de semana, dependendo das condições do tempo (ou seja, se estiver ensolarado), saio com alguns amigos ou sozinho para conhecer partes novas da cidade e fazer algumas trilhas diferentes.

PET – A bolsa está sendo suficiente? Você teve a chance de viajar para outros países/cidades?

Ítalo – A bolsa é suficiente, mas o que sobra pra viajar não se compara com os outros bolsistas. Aqui tudo é mais caro por se tratar de uma ilha e ser complicado o transporte de bens de consumo. Já tive chance de conhecer outras partes da ilha que estou morando, mas por enquanto não planejo grandes viagens. Pretendo deixar para o final.

PET – Quais as principais diferenças entre os sistemas educacionais?

Ítalo – Aqui é mais organizado e a infraestrutura é melhor (tanto em laboratório quanto em sala de aula) e o pessoal aqui demonstra uma maior preocupação com os alunos. Não estou dizendo que a UFC ou o LABOMAR não investem nos alunos, existe uma preocupação sim e antes de vir pra cá eu vi algumas mudanças acontecendo, mas aqui você sente que o investimento é maior. Aqui tem salas de aulas maiores e bem equipadas, planos de emergência, treinamentos para possíveis acidentes, professores treinados para prestar primeiros socorros em laboratórios e por ai vai. Você vê tudo isso funcionando e não tem como não se sentir que o investimento é maior.

PET – Você acha que as disciplinas que está fazendo ai vão ser úteis no rumo que você quer tomar dentro da oceanografia?

Ítalo – Acredito que sim, pois as disciplinas que estou fazendo são de aplicação geral o que me proporciona maior empregabilidade do que estou aprendendo. Existem algumas disciplinas que são especificas para regiões frias, mas não achei que isso me fosse ser útil ao trabalhar em regiões tropicais. Por isso estou preferindo disciplinas com pegada que possuam uma abrangência maior.

PET – Muito obrigada pela sua entrevista :D

Por onde andam os oceanógrafos?

Já se perguntou por onde andam os nossos oceanógrafos? E o que eles andam fazendo?

As respostas pra essas perguntas começarão a ser desvendadas na mais nova coluna coluna do nosso site. As entrevistas incluirão pessoas que estão atualmente fazendo intercâmbio pelo programa Ciência sem Fronteiras (CsF) e pessoas que já se formaram. Os post serão liberados uma vez a cada 15 dias, com a primeira entrevista hoje e a próxima no dia 27/05. Qualquer pergunta extra que queira fazer ao entrevistados é só deixar um comentário no final. Espero que gostem! ;)

 

Então vamos à primeira entrevista:

 

PET – Qual seu nome?

Priscila – Priscila Araújo da Silva

PET – Em que semestre você estava antes de viajar?

Priscila – 5° semestre

PET – Você acha que os conhecimentos adquiridos foram úteis ao intercambio?

Priscila – Sim, principalmente os conhecimentos de meteorologia e climatologia, geologia geral, sedimentologia e oceanografia física foram úteis para a compreensão de algumas disciplinas aqui.

Oceanário de Lisboa

PET – Você participava de algum projeto/bolsa/laboratório no Labomar?

Priscila – Sim, Bolsa de Iniciação a Docência (monitoria de Oceanografia Biológica III) e era voluntária no Laboratório de Zoobentos.

PET – Em que universidade/país você está? Porque escolheu essa universidade?

Priscila – Université de Perpignan Via Domitia, na França. Estou cursando o último ano da graduação em Ciências da Terra e do Meio Ambiente. No meu edital, eram as universidades que nos escolhiam, baseadas em dossiês enviados via o parceiro francês da Capes (Campus France). Elas nos mandavam a proposta e nós decidíamos se aceitávamos ou não.

PET – Mesmo tendo tido aulas de francês no Brasil, foi difícil se acostumar a ter aulas só em francês (visto que os cursos de línguas do Brasil são mais voltados pra conversação do dia a dia)?

Priscila – Foi um pouco difícil sim por conta do vocabulário mais específico e por ser conteúdo novo algumas vezes, mas com o tempo a compreensão foi fluindo naturalmente.

PET – Quais as cadeiras mais legais/diferentes que você está cursando?

Priscila – Extinções em massa e crises ambientais, Técnicas de prospecção no domínio oceânico e Tratamento numérico de dados e programação.

PET – Teve chance de embarcar?

Priscila – Sim, em uma disciplina de Geofísica, fizemos um embarque em que o professor nos mostrou o funcionamento de técnicas geofísicas de aquisição de dados, durou umas 7 horas.

PET – Vai fazer estágio ou pesquisa supervisionada?

Priscila – Fiz um mini-estágio no laboratório da Universidade para o trabalho de conclusão de curso de 60h (visto que estou cursando o último ano de uma graduação aqui, eu também tive que fazer esse trabalho), mas a maior parte dessas horas foram cumpridas realizando revisões bibliográficas e redigindo o trabalho, que tem como tema as mudanças climáticas no Holoceno. Basicamente eu participei do processo inicial de utilização de um método geoquímico para investigar os possíveis registros no sedimento das mudanças climáticas.

Aquário de Barcelona

PET – Você sofreu algum tipo de choque cultural?

Priscila – Alguns, mas nada muito assustador. Coisas como: todos os europeus comem sem guardanapo em fast-foods. No RU, sempre haverá um pão para cada pessoa em cada refeição. Tênis de corrida aqui é só pra fazer corrida e Havaianas é pra ficar em casa. Esses assoam o nariz como se não houvesse amanhã e quisessem colocar suas vias aeras pra fora pelo nariz (ISSO, foi um choque). A comida do RU vem separada em entrada, prato principal, salada e sobremesa (e o pão) e é um choque pra eles se você resolve misturar tudo (entrada, prato principal e salada) no mesmo prato, eles consideram o ato quase um atentado. Talvez o que mais me chocou mesmo foi o comportamento dos alunos em sala de aula, há muita passividade e participação zero.

PET – Como está sendo a sua rotina?

Priscila – Completamente diferente do que é no Brasil. O ritmo aqui é outro. As aulas são organizadas de forma a serem muito concentradas nos primeiros meses do semestre e vão diminuindo a partir do segundo/terceiro mês de aula, até chegar o período onde praticamente não se tem mais aulas, que é antes das provas. Então foi meio difícil me encaizar nesse ritmo e estabelecer uma rotina, porque ela começa com aula de 8:00 às 18:00 todos os dias por alguns meses seguidos, e diminui a carga horária gradativamente até o ponto de termos apenas uma aula por dia.

PET – A bolsa está sendo suficiente? Você teve a chance de viajar para outros países/cidades?

Priscila – Sim, no meu caso que estou em cidade pequena, é mais do que suficiente e sempre deu pra programas algumas viagens pela Europa e dentro da França mesmo.

PET – Quais as principais diferenças entre os sistemas educacionais?

Priscila – A organização das aulas, que começam bastante concentradas nos primeiros mess do semestre e tendem a diminuir à medida que o semestre avança. A organização das provas também é diferente. São duas semanas de provas, uma prova diferente em cada dia (ou às vezes 2 ou 3, é meio aleatório), não importando se o módulo acabou a dois meses ou a uma semana, as provas sempre serão realizadas nessas duas semanas de provas. Há pouco incentivo à pesquisa na graduação, também. A maioria dos alunos tiveram sua primeira experiência com trabalhos em laboratório durante o trabalho de conclusão de curso. Eles são mais preparados para a pesquisa apenas no mestrado. Há muitos exercícios em sala e poucos trabalhos a desenvolver, como seminários.

PET – Você acha que as disciplinas que está fazendo ai vão ser úteis no rumo que você quer tomar dentro da oceanografia?

Priscila - É, aí é uma pergunta difícil, porque eu não tive como escolher meu curso e, basicamente ele é um curso de Geologia, então tive disciplinas como “Geologia do domínio continental”, “Hidrologia”, “Ciências e Sociedade” e coisas do gênero que dificilmente me serão úteis dentro da Oceanografia. De modo geral, só agora no segundo semestre é que estou fazendo disciplinas mais aproveitáveis pra Oceanografia. Ainda tenho minhas dúvidas se me será útil no rumo que pretendo tomar dentro do curso porque, até o momento, é a Oceanografia Biológica que me encanta, mas toda experiência é válida.

PET – Muito obrigada pela sua entrevista :D

Por onde andam os Oceanógrafos? ~EUA

Olha mais uma ex-integrante do PET marcando presença no Ciência sem Fronteiras ai gente! Dessa vez vamos aos EUA conversar com a Gabi sobre o que ela anda fazendo.

PET – Qual seu nome?

Gabrielle – Gabrielle Melo Fernandes

PET – Em que semestre você estava antes de viajar?

Gabrielle – Eu estava no 7° semestre

PET – Você acha que os conhecimentos adquiridos foram úteis ao intercambio?

Georgia Aquarium

Gabrielle – Muito úteis! Na universidade que eu estou, eu era a que tinha um dos melhores backgrounds em Oceanografia nas minhas turmas. A gente não ficou devendo a ninguém aqui. Claro que tem umas deficiências aqui e ali, mas no geral a gente tem muito mais conteúdo sobre oceanografia. Por exemplo, na UMass, oceanografia física é uma cadeira da pós-gradução. Acredito que eles foquem mais no básic, alem disso durante os quatro anos de gradação daqui eles tem que cumprir cadeiras como história da arte, cultura internacional, essas matérias não relacionadas a Oceanografia o que diminui a carga cientifica, digamos assim

PET – Em que universidade/país você está? Porque escolheu essa universidade?

Gabrielle – Universidade de Massachusetts (UMass) – Boston. Na verdade, eu não escolhi a minha universidade e pra ser bem sincera, ainda não entendo muito bem como foi essa distribuição. Aqui nos EUA, você faz uma inscrição geral e uma agencia, o International Institute of Education (IIE), fica encarregada de mandar sua inscrição para as universidades e eles escolhem entre as quais você tiver sido aceita. E daí já te mandam o documento com a universidade e você aceita ou não.

PET – Você participava de algum projeto/bolsa/laboratório no Labomar?

Gabrielle – Sim, eu era bolsista do PET e voluntária no Laboratório de Contaminantes Orgânicos – LACOr.

 PET – Quais as cadeiras mais legais/diferentes que você está cursando?

Gabrielle – Eu realmente gostei de fazer duas cadeiras de ArcGis e uma de recursos naturais e desenvolvimento sustentável, no mais as cadeiras foram bem comuns.

PET – Teve chance de embarcar?

Gabrielle – Sim, mas não chegou a ser um “navio de verdade”. Foi uma coleta de testemunho para o laboratório que eu estou participando.

PET – Vai fazer estágio ou pesquisa supervisionada?

Gabrielle – Sim, na primeira metade do verão vou fazer pesquisa em um laboratório sobre reconstrução paleoambiental na UMass, trabalhando com amostras do paleoceano Neo-Thetys e tentando entender uma extinção em massa de 252 milhões de anos atrás! Na segunda metade, vou trabalhar no “River Project” com um professor no Woods Hole (WHOI) que está tentando entender como os grandes rios exportam carbono para os oceanos.

PET - Foi difícil se acostumar a ter aulas em inglês (visto que os cursos de línguas do Brasil são mais voltados pra conversação do dia a dia)?

Charles River (maior rio da região, completamente congelado no inverno)

Gabrielle - Eu tirei menos de 80 no TOEFL, por causa disso participei de um curso de inglês com duração de um mês e meio antes das aulas começarem. Esse período de transição foi muito importante, porque tive a oportunidade de adaptação gradual. Daí quando as aulas começaram pra valer, eu já estava bem mais acostumada com o ritmo de conversação.

PET – Você sofreu algum tipo de choque cultural?

Gabrielle – Vários, nada que a gente não se acostume com o tempo (fazer o que, né?). o primeiro choque foi que eles tem um costume (hábito, sei lá) com não ultrapasse meu espaço pessoal, o que chega a ser irritante. Toda vez que você pensa em cruzar o caminho de alguém, ou estão indo em direções contrárias, você tem que pedir desculpa. É sorry pra cá, sorry pra lá! Eles dizem que se você chega a uma certa proximidade ou você vai dar um murro ou vai beijar. Achei isso bem peculiar. Além disso, nada de toque ou abraço, é tudo na base do balançar de cabeça ou aperto de mãos… Passei por algumas situações quando tentei abraçar as pessoas na hora da chegada ou da despedida, bem engraçado! Outro choque bem forte foi a alimentação. Tudo aqui é industrializado, muito conservante e muita lata. E sanduiche é a bola da vez! Nada de arrozinho, feijão e bife acebolado…ai ai, to sonhando com isso! A questão da segurança publica aqui me surpreendeu muito. Não ando com medo de ser assaltada a qualquer hora do dia, isso é um sonho. Todo mundo tem iphone, ipod e similares e usam no metrô, na rua, embaixo da ponte. Isso ainda me choca, sempre rola aquele reflexo de olhar pra trás e ver se alguém está te observando pra levar sua máquina enquanto você tá tirando uma foto no parque. Tenso! Mas enfim, essas experiências são as que fazem a diferença!

Georgia Aquarium

Gabrielle – A rotina é praticamente a mesma do Brasil. O ritmo de aula depende do semestre. Eles não tem uma carga horária fechada, a cada semestre as disciplinas são ofertadas em horários diferentes. No primeiro semestre aqui, dois dias da semana eu não tinha aula! Nesse último, ficou mais preenchido, porque eu entrei em um laboratório, então estava todo dia na universidade. A carga de horária aqui é menor, mas como eles tem muita tarefa de casa, isso acaba compensando. Final de semana sempre rola um cineminha, barzinho, restaurantes, essas coisas da vida! Diferente aqui é que tudo fecha as 2hs da manhã e você não pode beber álcool em espaços públicos.

PET – A bolsa está sendo suficiente? Você teve a chance de viajar para outros países/cidades?

Gabrielle – A bolsa supriu todas as minhas necessidades com comida, transporte, diversão e tudo mais. O problema é que aqui as passagens de avião são caras, o que não permitiu que eu viajasse tanto assim. Eu fui pra Nova York que é pertinho daqui e pra Atlanta também.

PET – Quais as principais diferenças entre os sistemas educacionais?

Gabrielle –Como eu disse eles focam mais no básico, tem várias disciplinas que não são relacionadas com o curso em si. Além disso, a carga horária dentro de sala de aula é menor, porém com muita tarefa de casa. O que eu acho bem positivo, porque você aprende muito mais fazendo os exercícios do que estando dentro de uma sala de aula ouvindo sobre alguma coisa que você não tem ideia do que se trata. Uma diferença muito grande é a forma como eles dão a nota de tudo. Você não é avaliado baseado na porcentagem do que você acertou dos exercícios, e sim, como você foi em relação aos outros alunos da sua classe. Então, se você estiver com um monte de monstrinho na sala, mesmo que você vá bem, você tem que ir no mesmo ritmo deles pra tirar um “A”. Se a turma for mais ou menos, você só precisa fazer os exercícios, sem muita dedicação, que você tem a melhor nota da turma. Acho isso muito zoado, mas enfim nada que eu possa fazer.

PET – Muito obrigada pela sua entrevista :D

Por onde andam os Oceanógrafos?

Todo mundo tava esperando ansiosamente por mais um post, certo? Então bora matar a curiosidade sobre como andam as coisas na terra da Beth com o Augusto que está na Irlanda. Simbora negada!

 

PET – Qual seu nome?

Augusto – Augusto Freitas

PET – Em que semestre você estava antes de viajar?

Augusto – 5° semestre

PET – Você acha que os conhecimentos adquiridos foram úteis ao intercambio?

Augusto – Sem dúvida! Muito do que eu vi em algumas disciplinas na UFC e nas atividades do laboratório, vi também em algumas disciplinas que eu cursei aqui e isso de certa forma me deu uma vantagem além de ajudar a fixar o conhecimento que tinha adquirido aí.

PET – Você participava de algum projeto/bolsa/laboratório no Labomar?

Augusto – Fui bolsista de IC (Iniciação Científica) no Laboratório de Oceanografia Abiótica por cerca de 7 meses.

PET – Em que universidade/país você está? Porque escolheu essa universidade?

Augusto – Estou na University of Ulster, que fica na Irlanda do Norte (Reino Unido). Meu critério para escolher a universidade durante o processo de seleção se baseou mais na grade do curso do que no local da universidade em si. A University of Ulster foi a minha primeira escolha dentre as três universidades que podíamos selecionar e aqui estou cursando Ciências Marinhas. Eu fui alocado no 2° ano do curso, mas pude fazer algumas disciplinas do 3° e último ano.

PET – Foi difícil se acostumar a ter aulas em inglês (visto que os cursos de línguas do Brasil são mais voltados pra conversação do dia a dia)?

Augusto – Na primeira semana a adaptação foi um pouco complicada. O inglês da Irlanda do Norte é muito diferente de qualquer outro sotaque do inglês que eu já tinha ouvido e é bem mais difícil de entender também, mas depois dos primeiros mêses, deixou de ser um problema tão grande. Por outro lado, o que ajudou é que não tem outros brasileiros na universidade, com exceção de outra bolsista do Ciência sem Fronteiras. Por conta disso, acabamos tendo que falar inglês o tempo todo.

PET – Quais as cadeiras mais legais/diferentes que você está cursando?

Augusto – Das disciplinas que eu cursei aqui, não tive nenhuma muito diferente das que eu já cursei na UFC, mas acho que as que valeram mais a pena foram Natural Hazards (Desastres Naturais), GIS (SIG) e Marine Biology (Biologia Marinha). As duas últimas tiveram um foco muito grande na parte prática e acho que por isso valeram bastante a pena.

PET – Teve chance de embarcar?

Augusto – Sim! Porém não pela universidade. Tive a chance de fazer um curso indicado pelo coordenador do meu curso aqui e viajei para Cork, no sul da Irlanda. Passei dois dias embarcado em um cruzeiro oceanográfico equipado com vários laboratórios e todo tipo de instrumentação oceanográfica (tive a chance de aprender a usar vários desses equipamentos a bordo).

PET – Vai fazer estágio ou pesquisa supervisionada?

Augusto – Comecei meu estágio nessa semana, estou em uma empresa de consultoria ambiental do governo e no projeto em que estamos trabalhando, tentamos analisar as áreas mais vulnerábeis a impactos ambientais na foz do rio Lagan, em Belfast, caso ocorram vazamentos de petróleo. Eu terei bestante trabalho com GIS assim como alguns embarques.

PET – Você sofreu algum tipo de choque cultural?

Augusto – Tive alguns problemas para me adaptar nas primeiras semanas aqui. Não sabia cozinhar, nunca tinha feito mercantil e dificilmente fazia faxina em casa, mas aprendi logo. As pessoas aqui são extremamente amigáveis, a sensação de segurança é muito grande (por exemplo, posso caminhar numa rua deserta aqui à noite ouvindo música no celular, ou usar meu notebook num parque ou deixar minha câmera no banco do trem e ir ao banheiro, e nada acontece) e a qualidade de vida é muito alta (porque eles são muito despreocupados, nunca vi um irlandês reclamando de estresse). Creio que o choque cultural irá acontecer de fato quando eu retornar. Mas, dentre as coisas meio estranhas daqui tem a batata que é meio que o “arroz com feijão” dos irlandeses e o prato principal deles (acho que um dos poucos que são daqui mesmo e não de outra cultura) é o fish & chips (peixe, batata frita, ervilhas e molho). Mas eles comem chips com bife, lasanha, pizza, frango e com o que mais der pra misturar lol. Sem falar que algumas meninas daqui quando saem de noite pras festas, usam uma maquiagem laranja pra ‘parecerem’ bronzeadas e acabam parecendo Oompa Loompas! É muito estranho.

PET – Como está sendo a sua rotina?

Augusto – Tranquila, eu diria. A cidade onde eu moro é muito pequena, tudo fica perto e ainda tenho a vantagem de morar dentro do campus, o lado ruim é que aqui tudo fecha cedo. Quando dá 17h30 – 18h, as lojas fecham e a cidade fica deserta. Mesmo agora anoitecendo depois das 22h (ainda to me acostumando com isso lol). Meu ano acadêmico já terminou, mas antes disso, eu fazia três módulos por semestre e tinha poucas aulas durante a semana (aqui a carga horária de aula é muito menor que na UFC), mas por outro lado o número de trabalhos é bem maior e eles esperam que você estude muito por conta própria.

PET – A bolsa está sendo suficiente? Você teve a chance de viajar para outros países/cidades?

Augusto – Apesar do custo de vida no Reino Unido ser alto (e da comida normal ser absurdamente cara, se comparado ao Brasil), a bolsa que recebo dá pra suprir minhas necessidades sim. Como já falei, moro dentro do campus, então não tenho gastos com transporte e pelo fato da cidade onde moro ser pequena, o custo de vida é bem baixo se comparado a outras cidades do UK. E economizando a bolsa e os auxílios já deu pra viajar pra alguns países sim.

PET – Quais as principais diferenças entre os sistemas educacionais?

Augusto – Não sei se dá pra comparar e dizer qual o melhor sistema educacional, ambos têm seus pontos fortes e fracos. Mas eu diria que na UFC a base teórica que a gente recebe na graduação é, de longe, mais completa. O numero de disciplinas é maior e o tempo de duração do curso também. No entanto, a estrutura física que os alunos daqui têm a disposição (salas de aula, biblioteca, laboratórios, equipamentos para aulas de campo, etc.) é muito melhor.

PET – Você acha que as disciplinas que está fazendo ai vão ser úteis no rumo que você quer tomar dentro da oceanografia?

Augusto – Acho que as disciplinas que eu fiz aqui foram importantes e provavelmente serão úteis algum dia, mas talvez não exatamente dentro da oceanografia. Muitas das disciplinas que eu cursei eram do curso de ciências ambientais, e o conteúdo de algumas me pareceu um pouco abstrato (pelo menos se comparados com as cadeiras da nossa grade aí). Por exemplo, uma dessas disciplinas foi ‘desenvolvimento, meio ambiente e sociedade’ e quase todas as aulas eram focadas no uso de recursos naturais no Oriente Médio. Outra disciplina foi ‘planejamento ambiental’, mas os exemplos que o professor usava eram muito locais e baseados na legislação ambiental do Reino Unido. Mas no geral, tenho certeza que todas as disciplinas que eu fiz aqui serão úteis sim, mesmo enquanto eu ainda estiver no curso ou depois que eu me formar.

PET – Tem algum ponto negativo no intercâmbio?

Augusto – Acho que eu esperava mais opções de disciplinas, mas com 3 disciplinas por semestre (muitas parecidas às que eu já havia feito) e 3 anos de curso aqui, não tive muitas opções não. Mas com certeza não me decepcionei!

PET – Muito obrigada pela sua entrevista :D