Por onde andam os Oceanógrafos? ~EUA

Olha mais uma ex-integrante do PET marcando presença no Ciência sem Fronteiras ai gente! Dessa vez vamos aos EUA conversar com a Gabi sobre o que ela anda fazendo.

PET – Qual seu nome?

Gabrielle – Gabrielle Melo Fernandes

PET – Em que semestre você estava antes de viajar?

Gabrielle – Eu estava no 7° semestre

PET – Você acha que os conhecimentos adquiridos foram úteis ao intercambio?

Georgia Aquarium

Gabrielle – Muito úteis! Na universidade que eu estou, eu era a que tinha um dos melhores backgrounds em Oceanografia nas minhas turmas. A gente não ficou devendo a ninguém aqui. Claro que tem umas deficiências aqui e ali, mas no geral a gente tem muito mais conteúdo sobre oceanografia. Por exemplo, na UMass, oceanografia física é uma cadeira da pós-gradução. Acredito que eles foquem mais no básic, alem disso durante os quatro anos de gradação daqui eles tem que cumprir cadeiras como história da arte, cultura internacional, essas matérias não relacionadas a Oceanografia o que diminui a carga cientifica, digamos assim

PET – Em que universidade/país você está? Porque escolheu essa universidade?

Gabrielle – Universidade de Massachusetts (UMass) – Boston. Na verdade, eu não escolhi a minha universidade e pra ser bem sincera, ainda não entendo muito bem como foi essa distribuição. Aqui nos EUA, você faz uma inscrição geral e uma agencia, o International Institute of Education (IIE), fica encarregada de mandar sua inscrição para as universidades e eles escolhem entre as quais você tiver sido aceita. E daí já te mandam o documento com a universidade e você aceita ou não.

PET – Você participava de algum projeto/bolsa/laboratório no Labomar?

Gabrielle – Sim, eu era bolsista do PET e voluntária no Laboratório de Contaminantes Orgânicos – LACOr.

 PET – Quais as cadeiras mais legais/diferentes que você está cursando?

Gabrielle – Eu realmente gostei de fazer duas cadeiras de ArcGis e uma de recursos naturais e desenvolvimento sustentável, no mais as cadeiras foram bem comuns.

PET – Teve chance de embarcar?

Gabrielle – Sim, mas não chegou a ser um “navio de verdade”. Foi uma coleta de testemunho para o laboratório que eu estou participando.

PET – Vai fazer estágio ou pesquisa supervisionada?

Gabrielle – Sim, na primeira metade do verão vou fazer pesquisa em um laboratório sobre reconstrução paleoambiental na UMass, trabalhando com amostras do paleoceano Neo-Thetys e tentando entender uma extinção em massa de 252 milhões de anos atrás! Na segunda metade, vou trabalhar no “River Project” com um professor no Woods Hole (WHOI) que está tentando entender como os grandes rios exportam carbono para os oceanos.

PET - Foi difícil se acostumar a ter aulas em inglês (visto que os cursos de línguas do Brasil são mais voltados pra conversação do dia a dia)?

Charles River (maior rio da região, completamente congelado no inverno)

Gabrielle - Eu tirei menos de 80 no TOEFL, por causa disso participei de um curso de inglês com duração de um mês e meio antes das aulas começarem. Esse período de transição foi muito importante, porque tive a oportunidade de adaptação gradual. Daí quando as aulas começaram pra valer, eu já estava bem mais acostumada com o ritmo de conversação.

PET – Você sofreu algum tipo de choque cultural?

Gabrielle – Vários, nada que a gente não se acostume com o tempo (fazer o que, né?). o primeiro choque foi que eles tem um costume (hábito, sei lá) com não ultrapasse meu espaço pessoal, o que chega a ser irritante. Toda vez que você pensa em cruzar o caminho de alguém, ou estão indo em direções contrárias, você tem que pedir desculpa. É sorry pra cá, sorry pra lá! Eles dizem que se você chega a uma certa proximidade ou você vai dar um murro ou vai beijar. Achei isso bem peculiar. Além disso, nada de toque ou abraço, é tudo na base do balançar de cabeça ou aperto de mãos… Passei por algumas situações quando tentei abraçar as pessoas na hora da chegada ou da despedida, bem engraçado! Outro choque bem forte foi a alimentação. Tudo aqui é industrializado, muito conservante e muita lata. E sanduiche é a bola da vez! Nada de arrozinho, feijão e bife acebolado…ai ai, to sonhando com isso! A questão da segurança publica aqui me surpreendeu muito. Não ando com medo de ser assaltada a qualquer hora do dia, isso é um sonho. Todo mundo tem iphone, ipod e similares e usam no metrô, na rua, embaixo da ponte. Isso ainda me choca, sempre rola aquele reflexo de olhar pra trás e ver se alguém está te observando pra levar sua máquina enquanto você tá tirando uma foto no parque. Tenso! Mas enfim, essas experiências são as que fazem a diferença!

Georgia Aquarium

Gabrielle – A rotina é praticamente a mesma do Brasil. O ritmo de aula depende do semestre. Eles não tem uma carga horária fechada, a cada semestre as disciplinas são ofertadas em horários diferentes. No primeiro semestre aqui, dois dias da semana eu não tinha aula! Nesse último, ficou mais preenchido, porque eu entrei em um laboratório, então estava todo dia na universidade. A carga de horária aqui é menor, mas como eles tem muita tarefa de casa, isso acaba compensando. Final de semana sempre rola um cineminha, barzinho, restaurantes, essas coisas da vida! Diferente aqui é que tudo fecha as 2hs da manhã e você não pode beber álcool em espaços públicos.

PET – A bolsa está sendo suficiente? Você teve a chance de viajar para outros países/cidades?

Gabrielle – A bolsa supriu todas as minhas necessidades com comida, transporte, diversão e tudo mais. O problema é que aqui as passagens de avião são caras, o que não permitiu que eu viajasse tanto assim. Eu fui pra Nova York que é pertinho daqui e pra Atlanta também.

PET – Quais as principais diferenças entre os sistemas educacionais?

Gabrielle –Como eu disse eles focam mais no básico, tem várias disciplinas que não são relacionadas com o curso em si. Além disso, a carga horária dentro de sala de aula é menor, porém com muita tarefa de casa. O que eu acho bem positivo, porque você aprende muito mais fazendo os exercícios do que estando dentro de uma sala de aula ouvindo sobre alguma coisa que você não tem ideia do que se trata. Uma diferença muito grande é a forma como eles dão a nota de tudo. Você não é avaliado baseado na porcentagem do que você acertou dos exercícios, e sim, como você foi em relação aos outros alunos da sua classe. Então, se você estiver com um monte de monstrinho na sala, mesmo que você vá bem, você tem que ir no mesmo ritmo deles pra tirar um “A”. Se a turma for mais ou menos, você só precisa fazer os exercícios, sem muita dedicação, que você tem a melhor nota da turma. Acho isso muito zoado, mas enfim nada que eu possa fazer.

PET – Muito obrigada pela sua entrevista :D

Por onde andam os Oceanógrafos?

Todo mundo tava esperando ansiosamente por mais um post, certo? Então bora matar a curiosidade sobre como andam as coisas na terra da Beth com o Augusto que está na Irlanda. Simbora negada!

 

PET – Qual seu nome?

Augusto – Augusto Freitas

PET – Em que semestre você estava antes de viajar?

Augusto – 5° semestre

PET – Você acha que os conhecimentos adquiridos foram úteis ao intercambio?

Augusto – Sem dúvida! Muito do que eu vi em algumas disciplinas na UFC e nas atividades do laboratório, vi também em algumas disciplinas que eu cursei aqui e isso de certa forma me deu uma vantagem além de ajudar a fixar o conhecimento que tinha adquirido aí.

PET – Você participava de algum projeto/bolsa/laboratório no Labomar?

Augusto – Fui bolsista de IC (Iniciação Científica) no Laboratório de Oceanografia Abiótica por cerca de 7 meses.

PET – Em que universidade/país você está? Porque escolheu essa universidade?

Augusto – Estou na University of Ulster, que fica na Irlanda do Norte (Reino Unido). Meu critério para escolher a universidade durante o processo de seleção se baseou mais na grade do curso do que no local da universidade em si. A University of Ulster foi a minha primeira escolha dentre as três universidades que podíamos selecionar e aqui estou cursando Ciências Marinhas. Eu fui alocado no 2° ano do curso, mas pude fazer algumas disciplinas do 3° e último ano.

PET – Foi difícil se acostumar a ter aulas em inglês (visto que os cursos de línguas do Brasil são mais voltados pra conversação do dia a dia)?

Augusto – Na primeira semana a adaptação foi um pouco complicada. O inglês da Irlanda do Norte é muito diferente de qualquer outro sotaque do inglês que eu já tinha ouvido e é bem mais difícil de entender também, mas depois dos primeiros mêses, deixou de ser um problema tão grande. Por outro lado, o que ajudou é que não tem outros brasileiros na universidade, com exceção de outra bolsista do Ciência sem Fronteiras. Por conta disso, acabamos tendo que falar inglês o tempo todo.

PET – Quais as cadeiras mais legais/diferentes que você está cursando?

Augusto – Das disciplinas que eu cursei aqui, não tive nenhuma muito diferente das que eu já cursei na UFC, mas acho que as que valeram mais a pena foram Natural Hazards (Desastres Naturais), GIS (SIG) e Marine Biology (Biologia Marinha). As duas últimas tiveram um foco muito grande na parte prática e acho que por isso valeram bastante a pena.

PET – Teve chance de embarcar?

Augusto – Sim! Porém não pela universidade. Tive a chance de fazer um curso indicado pelo coordenador do meu curso aqui e viajei para Cork, no sul da Irlanda. Passei dois dias embarcado em um cruzeiro oceanográfico equipado com vários laboratórios e todo tipo de instrumentação oceanográfica (tive a chance de aprender a usar vários desses equipamentos a bordo).

PET – Vai fazer estágio ou pesquisa supervisionada?

Augusto – Comecei meu estágio nessa semana, estou em uma empresa de consultoria ambiental do governo e no projeto em que estamos trabalhando, tentamos analisar as áreas mais vulnerábeis a impactos ambientais na foz do rio Lagan, em Belfast, caso ocorram vazamentos de petróleo. Eu terei bestante trabalho com GIS assim como alguns embarques.

PET – Você sofreu algum tipo de choque cultural?

Augusto – Tive alguns problemas para me adaptar nas primeiras semanas aqui. Não sabia cozinhar, nunca tinha feito mercantil e dificilmente fazia faxina em casa, mas aprendi logo. As pessoas aqui são extremamente amigáveis, a sensação de segurança é muito grande (por exemplo, posso caminhar numa rua deserta aqui à noite ouvindo música no celular, ou usar meu notebook num parque ou deixar minha câmera no banco do trem e ir ao banheiro, e nada acontece) e a qualidade de vida é muito alta (porque eles são muito despreocupados, nunca vi um irlandês reclamando de estresse). Creio que o choque cultural irá acontecer de fato quando eu retornar. Mas, dentre as coisas meio estranhas daqui tem a batata que é meio que o “arroz com feijão” dos irlandeses e o prato principal deles (acho que um dos poucos que são daqui mesmo e não de outra cultura) é o fish & chips (peixe, batata frita, ervilhas e molho). Mas eles comem chips com bife, lasanha, pizza, frango e com o que mais der pra misturar lol. Sem falar que algumas meninas daqui quando saem de noite pras festas, usam uma maquiagem laranja pra ‘parecerem’ bronzeadas e acabam parecendo Oompa Loompas! É muito estranho.

PET – Como está sendo a sua rotina?

Augusto – Tranquila, eu diria. A cidade onde eu moro é muito pequena, tudo fica perto e ainda tenho a vantagem de morar dentro do campus, o lado ruim é que aqui tudo fecha cedo. Quando dá 17h30 – 18h, as lojas fecham e a cidade fica deserta. Mesmo agora anoitecendo depois das 22h (ainda to me acostumando com isso lol). Meu ano acadêmico já terminou, mas antes disso, eu fazia três módulos por semestre e tinha poucas aulas durante a semana (aqui a carga horária de aula é muito menor que na UFC), mas por outro lado o número de trabalhos é bem maior e eles esperam que você estude muito por conta própria.

PET – A bolsa está sendo suficiente? Você teve a chance de viajar para outros países/cidades?

Augusto – Apesar do custo de vida no Reino Unido ser alto (e da comida normal ser absurdamente cara, se comparado ao Brasil), a bolsa que recebo dá pra suprir minhas necessidades sim. Como já falei, moro dentro do campus, então não tenho gastos com transporte e pelo fato da cidade onde moro ser pequena, o custo de vida é bem baixo se comparado a outras cidades do UK. E economizando a bolsa e os auxílios já deu pra viajar pra alguns países sim.

PET – Quais as principais diferenças entre os sistemas educacionais?

Augusto – Não sei se dá pra comparar e dizer qual o melhor sistema educacional, ambos têm seus pontos fortes e fracos. Mas eu diria que na UFC a base teórica que a gente recebe na graduação é, de longe, mais completa. O numero de disciplinas é maior e o tempo de duração do curso também. No entanto, a estrutura física que os alunos daqui têm a disposição (salas de aula, biblioteca, laboratórios, equipamentos para aulas de campo, etc.) é muito melhor.

PET – Você acha que as disciplinas que está fazendo ai vão ser úteis no rumo que você quer tomar dentro da oceanografia?

Augusto – Acho que as disciplinas que eu fiz aqui foram importantes e provavelmente serão úteis algum dia, mas talvez não exatamente dentro da oceanografia. Muitas das disciplinas que eu cursei eram do curso de ciências ambientais, e o conteúdo de algumas me pareceu um pouco abstrato (pelo menos se comparados com as cadeiras da nossa grade aí). Por exemplo, uma dessas disciplinas foi ‘desenvolvimento, meio ambiente e sociedade’ e quase todas as aulas eram focadas no uso de recursos naturais no Oriente Médio. Outra disciplina foi ‘planejamento ambiental’, mas os exemplos que o professor usava eram muito locais e baseados na legislação ambiental do Reino Unido. Mas no geral, tenho certeza que todas as disciplinas que eu fiz aqui serão úteis sim, mesmo enquanto eu ainda estiver no curso ou depois que eu me formar.

PET – Tem algum ponto negativo no intercâmbio?

Augusto – Acho que eu esperava mais opções de disciplinas, mas com 3 disciplinas por semestre (muitas parecidas às que eu já havia feito) e 3 anos de curso aqui, não tive muitas opções não. Mas com certeza não me decepcionei!

PET – Muito obrigada pela sua entrevista :D